Contardo Calligaris reflete o amor (Foto: Janete Longo)
SEXO DE MENOS
O sexo, aliás, é o lugar onde a maioria dos casais fracassa. Eu acho que, talvez, o consultório de um analista seja um lugar especialmente pessimista para olhar para isso, porque, claro, você recebe a demanda de quem se queixa. Mas deste observatório, a quantidade de casais que convivem há muitos anos, que são casados, que têm filhos ou não, e que têm uma vida sexual inexistente, é enorme.
SEXO DE QUALIDADE
Os casais deveriam avaliar a qualidade do sexo. Mas essa conversa necessariamente não existe, até porque eles vão mentir... A gente mede isso primeiro pela frequência. Mas o que na verdade a gente mede mesmo é se um dos dois se queixa.
SEXO PREGUIÇA
Um casal chega ao consultório dizendo que não transa há um certo tempo, você pergunta quanto, e eles respondem 14 anos. E por que só chegaram agora? Porque sexo dá preguiça e, às vezes, as pessoas constroem um casal justamente para se livrar dessa incumbência. Eu, como psicanalista, não acho nada sobre isso. Porque para mim é saudável tudo o que não produz queixa subjetiva, então, se eles são felizes...
SORTE NO AMOR Parece meio idiota dito por um psicanalista, mas eu acho que o amor, que as relações, são também, em grande parte, uma questão de sorte. Os encontros são acasos, são coincidências. Existem períodos na vida das pessoas que elas não encontram ninguém por quem se interessem, não encontram mesmo.
DEDINHO PODRE?
Acho interessante do ponto de vista psíquico quando as pessoas parecem sempre se interessar por pessoas com as quais não vai funcionar o relacionamento. São pessoas que não vão além de um encontro ou dois, e eles se sentem de alguma forma preteridos e ficam naquele.... pombas, de novo eu!
ENTRE DOIS AMORES
Pode acontecer? Como resolve?
Sim, suponho que sim. E ó, tem que escolher, porque vou te dizer, amar duas pessoas ao mesmo tempo dá uma preguiça, um trabalho horroroso, acho que tem que escolher. Pode amar muitos, mas o meu conselho é amar um de cada vez.
SEPARAÇÃO
Separar é pelo menos quase tão difícil quanto encontrar alguém. Tem pessoas que realmente podem viver anos na tentativa de se separar e não conseguir, por mil razões diferentes, e lá se vão mais 6 meses das vidas das pessoas, sem prazer algum. Eu acho, francamente, com pouquíssimas exceções, que não se tem nada a dizer na separação. Se as pessoas se separassem mais rapidamente seria mais fácil de dizer: “olha, tudo bem, nós vivemos 3, 4, 5, 10 anos, porque foi legal e importante, na minha vida e espero que tenha sido também na sua”.
TERAPIA DE CASAL
Normalmente a terapia de casal só faz sentido quando os dois querem continuar juntos. O que acontece, na metade dos casos, é que eles dizem que querem ficar juntos, mas, na verdade, acabam se separando depois de alguma sessões. O que é ótimo, porque afinal permitiram que acontecesse o que tinha que acontecer.
A DOR DA SEPARAÇÃO
Acho que tem uma grande parte de um componente narcisista na dor de separação amorosa, aquele momento do “ela ou ele não me quis mais”, que tem a ver com a relação da gente com a mãe. Esta é a falta, por assim dizer, mais estúpida da dor da separação. Tem a falta efetiva que alguém nos faz, não só na presença cotidiana, mas na função que essa pessoa tinha na nossa vida, inclusive no nosso desejo – não só no nosso desejo sexual, mas no nosso desejo de desejar. E tem uma quantidade de outras faltas. Para mim, por exemplo, uma das faltas mais penosas é o patrimônio de histórias vividas juntos, que passamos a não ter mais com quem compartilhar na memória. A partir de certo momento da vida, você sabe que nenhum companheiro ou companheira futura, por exemplo, poderá conhecer seus pais porque eles já morreram. Essa também é uma dimensão de perda que eu acho bem significativa.
DESEJO
Você acha que o medo de perder inibe o desejo?
Sim, porque não existe desejo que não implique em perda. Tanto que quem não sabe perder, não consegue desejar. Desejar é perder, pelo menos perder todas as outras coisas que você poderia ter feito em vez da que você vai fazer.
Desejar o desejo pode ser mais gratificante do que realizar o desejo?
De certa forma, a gente sempre deseja o desejo. Até porque, a coisa mais importante para os desejos da gente é que eles sejam reconhecidos, inclusive, a começar, reconhecidos por nós mesmos, e, eventualmente, pelos outros que estão ao redor da gente. Realizá-los é o de menos. O que o desejo quer é ser reconhecido, e isso é condição básica de uma certa saúde mental.
E, por fim, Contardo recomenda para esse Dia dos Namorados, com amor:
A razão de existir de um casal é para que você permita ao seu parceiro ou parceira viver ao máximo o desejo dele ou dela. Então, não tem negociações entre um casal, do tipo: “Eu renuncio a minha coleção de selos, se você renuncia a ter um cachorro em casa.” Isso não existe. Não discuta a relação, nem no Dia dos Namorados, nem nunca.
criativa/Bia Villarinho