Camila Pitanga em ensaio da ESTILO: a hora da pele fake.
Por séculos a fio, o status associado às peles foi alvo de cobiça coletiva. O anseio, porém, sempre foi reprimido por questões hierárquicas e, mais recentemente, ecológicas. De um ano para cá, um novo componente alterou a antiga equação. Com aspecto irrepreensível, a pele sintética saiu do limbo e passou a compor imagens tão poderosas quanto as originais em passarelas como Chanel e Fendi. Versões acessíveis chegaram ao mercado, tornando finalmente populares o glamour e a sofisticação de um bom casaco de pele.
"Nos últimos cinco anos, as fábricas desenvolveram formas eficazes de tramar os pelos, deixando-os semelhantes aos de verdade. A aceitação, aumentou", diz Gina Ferreira, gerente da Pelican, maior produtora de pele sintética da América Latina, que viu a produção pular de 100 mil para 400 mil metros por temporada. Isso explica o porquê de Karl Lagerfeld, o todo-poderoso da Chanel, ter apostado na matéria-prima antes de todo mundo (a pele de mentirinha da grife, feita na França, custa até R$ 230, o metro, contra os R$ 70 da nacional). "Em paralelo, a China, líder mundial do setor, passou a exportar peças a baixo custo", confirma Gina. Isso fez com que as redes de fast fashion comprassem a ideia.
"Nos últimos cinco anos, as fábricas desenvolveram formas eficazes de tramar os pelos, deixando-os semelhantes aos de verdade. A aceitação, aumentou", diz Gina Ferreira, gerente da Pelican, maior produtora de pele sintética da América Latina, que viu a produção pular de 100 mil para 400 mil metros por temporada. Isso explica o porquê de Karl Lagerfeld, o todo-poderoso da Chanel, ter apostado na matéria-prima antes de todo mundo (a pele de mentirinha da grife, feita na França, custa até R$ 230, o metro, contra os R$ 70 da nacional). "Em paralelo, a China, líder mundial do setor, passou a exportar peças a baixo custo", confirma Gina. Isso fez com que as redes de fast fashion comprassem a ideia.
foto J. R. Duran
Com oferta de produto e preço, faltava o fator estético para confirmá-lo, de vez, como a síntese das vontades da estação. Em curiosa sensibilidade coletiva, eis que os papas da moda resgataram os anos 1970. "Foi com os hippies que o material ganhou vez em looks de colete, bata e jeans. O boho chic atual sugere um styling mais urbano", diz a jornalista de moda Lilian Pacce. Hoje, casacos e coletes felpudos circulam com camisa de seda e calça flare (a mesma daquela época, só que de lavagem escura) e dão status quo aos básicos skinny e T-shirt, exatamente como fazem as trendsetters Alexa Chung e Olivia Palermo. Até elas abriram o closet aos fakes.
Essa nova incursão da textura é particular do momento "moda para todos". Até os anos 1920, a pele esteve reservada a quem tinha poder. "O prestígio surgiu na pré-história. Os mais valentes exibiam peças maiores. Era a prova de que haviam vencido o animal", conta o historiador João Braga. "Já na Idade Moderna, o rei francês Luís XIV difundiu o manto de arminho como um símbolo de nobreza, restrito ao alto escalão hierárquico." A popularização, explica João, começou no pós-Primeira Guerra. "O dinheiro já circulava e as divas do cinema, como Joan Crawford, difundiam os suntuosos casacos de raposa."
Essa nova incursão da textura é particular do momento "moda para todos". Até os anos 1920, a pele esteve reservada a quem tinha poder. "O prestígio surgiu na pré-história. Os mais valentes exibiam peças maiores. Era a prova de que haviam vencido o animal", conta o historiador João Braga. "Já na Idade Moderna, o rei francês Luís XIV difundiu o manto de arminho como um símbolo de nobreza, restrito ao alto escalão hierárquico." A popularização, explica João, começou no pós-Primeira Guerra. "O dinheiro já circulava e as divas do cinema, como Joan Crawford, difundiam os suntuosos casacos de raposa."
As coleções da Fendi e da Chanel
fotos Agência Fotosite
Joan Crawford e seu casaco de pele verdadeira em 1932.
Apesar de nunca ter saído de cena, o uso da pele animal tem sofrido constantes abalos por parte de ecologistas. Em abril, a marca de acessórios Arezzo retirou das lojas os itens feitos com raposa após uma polêmica lançada no Twitter. No embalo, a Iódice recolheu suas peças de vison antes mesmo de sofrer alguma represália. Nenhuma das empresas quis comentar o assunto. "Acho que a discussão teria mais sentido se o couro também fosse debatido", diz Reinaldo Lourenço, que incluiu a chinchila na sua atual coleção e manteve tudo nas araras.
A estilista Cris Barros, que nesta estação transita entre os mercados de luxo e de fast fashion, demonstra a ordem prática da questão: em sua grife, onde as etiquetas superam a marca dos R$ 10 mil, ela usou pele de coelho. Na linha que assina para a Riachuelo, onde a média de preços cai para R$ 90, optou por versões made in China. "O cenário mudou. Hoje, quem tem informação também pode se vestir de forma tão bacana quanto as altas rodas", diz Flavio Rocha, presidente da Riachuelo. Como se vê, a função da moda, aqui representada pela pele sintética, é fazer pensar, provocar discussão e, mais do que nunca, tornar os desejos possíveis.
A estilista Cris Barros, que nesta estação transita entre os mercados de luxo e de fast fashion, demonstra a ordem prática da questão: em sua grife, onde as etiquetas superam a marca dos R$ 10 mil, ela usou pele de coelho. Na linha que assina para a Riachuelo, onde a média de preços cai para R$ 90, optou por versões made in China. "O cenário mudou. Hoje, quem tem informação também pode se vestir de forma tão bacana quanto as altas rodas", diz Flavio Rocha, presidente da Riachuelo. Como se vê, a função da moda, aqui representada pela pele sintética, é fazer pensar, provocar discussão e, mais do que nunca, tornar os desejos possíveis.
foto George Hurrell/Getty Images
Como escolher e manter
• "Modelos de tom homogêneo são os que mais se parecem com a pele animal", diz Gina Ferreira. Segunda ela, as de boa qualidade usam trama de tecelagem, que é mais resistente.
• Na hora de lavar na máquina, vire o lado avesso e não misture outras peças. À mão, escove o pelo no sentido contrário ao crescimento e, depois de seco, na direção correta. Em dias úmidos, seque com secador.
• Guarde a peça em capas de algodão e nunca em versões plásticas. Elas impedem que o material respire, podendo provocar mofo e desbotamento da cor.
• Na hora de lavar na máquina, vire o lado avesso e não misture outras peças. À mão, escove o pelo no sentido contrário ao crescimento e, depois de seco, na direção correta. Em dias úmidos, seque com secador.
• Guarde a peça em capas de algodão e nunca em versões plásticas. Elas impedem que o material respire, podendo provocar mofo e desbotamento da cor.
Micky Green / Alexa Chung / Olivia Palermo
fotos divulgação
estilo.abril